Pelo Avesso!

“Chorar faz eu me acalmar e suportar o peso dos meus problemas.”

Alegria, Divertida Mente

“Ele estava triste, então fiquei ouvindo ele.”

Tristeza, Divertida Mente

“Emoções não podem desistir, gênio.”

Tristeza, Divertida Mente

“Há algo de errado comigo. Parece que estou tendo um surto.”

Medo, Divertida Mente

“Já olhou para alguém e se perguntou o que passa na cabeça dela?”

Raiva, Divertida Mente

“Estou chegando. Cuidado!”

Nojinho, Divertida Mente

Espero que vocês já tenham assistido ao filme Divertida Mente da Disney/Pixar. Se não, corre lá e assiste hoje mesmo! É um superfilme para crianças que fala mais aos adultos. Divertida Mente foi um nome bem criativo e engraçado para traduzir o nome original da animação: “Inside Out”. Ao traduzirmos esse nome fica bem mais fácil entender a dimensão da obra e a ideia da nossa conversa de hoje. Inside out quer dizer “pelo avesso”.

Quando pensamos em algo que está pelo avesso, associamos a algo que não está sendo usado de forma correta, não é mesmo? Algo que está errado. E geralmente está, quando se trata de roupas, por exemplo. No entanto, a ideia do filme nos fala de algo que é muito importante hoje em dia, no século 21: a escola deste tempo.

A aprendizagem socioemocional vai além de habilidades para serem aprendidas na escola. Ela perpassa pela importância do desenvolvimento holístico de qualquer pessoa: criancas, adolescentes e adultos. Quantas vezes vemos crianças que são melhores amigas na escola, mas, de repente, já não se falam mais em um dia e daí, em poucos dias mais, já voltam a se gostar e serem as melhores amigas? Acontece com os filhos de vocês? Deve acontecer. Deve ter acontecido com vocês na fase escolar, acontece com eles e, pra falar a verdade, ainda deve acontecer com vocês na fase adulta, não? Quantas vezes deixamos afinidades e emoções que carregamos mudar nosso comportamento no trabalho e até em casa, não é mesmo?

A aprendizagem socioemocional chegou para ficar nas escolas. Ela é essencial a qualquer pessoa que busca desenvolvimento e crescimento no sec. 21, nos âmbitos pessoal e profissional. Desenvolver essas habilidades e competências envolve ter inteligência interpessoal e intrapessoal: ter autoconsciência, autogerenciamento, consciência social, habilidades para se relacionar com outras pessoas e saber tomar decisões com responsabilidade.

Ao citarmos o âmbito intrapessoal, nos referimos a nossa relação com nós mesmos, como identificamos nossas emoções, pontos fortes e pontos a melhorar. Como nos olhamos no espelho e nos vemos: será que vejo quem sou em todas as minhas possibilidades? Será que consigo perceber onde devo crescer e encarar isso de frente com a simplicidade de quem sabe que sempre há o que aprender e crescer? Quando me vejo “no pacote completo”, como fica a minha autoestima, minha autoconfiança e minha autoeficácia? Será que a verdade sobre mim me impulsiona a crescer ou me paralisa? A partir daí, como eu lido com as emoções e como eu tento buscar equilibrá-las?

Na aprendizagem socioemocional, o aprendente aprende a se ver e se perceber em seus sentimentos e emoções positivos e negativos, aprendendo, também, a lidar com impulsos, autodisciplina, estresse, automotivação e habilidades organizacionais para que possa atingir seus objetivos.

A partir daí, se trabalha o âmbito interpessoal que envolve as relações com os outros e em sociedade. Aprender a entender sobre perspectiva e a relação entre o que é verdade pra mim pode não ser para o outro, a apreciação da diversidade e do quanto ela pode agregar a quem somos, se há respeito por ela, por pensamentos divergentes. O desenvolvimento da capacidade de sentir empatia.

Quando se passa a ter uma consciência social, fica mais fácil perceber e deixar que as habilidades relacionais aflorem. A capacidade de comunicar e engajar socialmente, construindo relações e sendo elemento atuante em trabalhos de equipe são habilidades dessa competência.

Tudo isso sendo pautado pela capacidade de tomar decisões com responsabilidade, percebendo e fazendo escolhas de forma consciente sobre seu próprio comportamento e relações sociais. O aprendente que tem suas esferas intra e interpessoais desenvolvidas, ou melhor, em constante desenvolvimento, consegue identificar e analisar problemas com maior clareza para então resolvê-los, refletir sobre eles e tomarem decisões éticas.

A escola e a família do século 21 precisam trabalhar em parceria para que oportunidades de vivenciar essas habilidades ocorram de forma natural e significativa no ecossistema de aprendizagem das crianças e adolescentes. Não são disciplinas como inglês, português, história, geografia, ciências e matemática. Ao contrário, essas habilidades devem fazer parte do cotidiano desses aprendentes e circular por todos ambientes onde a aprendizagem possa ocorrer. Esses temas podem ser abordados em aulas de CLIL (Content and Language Integrated Learning,  traduzido como Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Linguagem), por exemplo. Imagina como é importante ter autoconfiança pra apresentar um tópico de ciências na língua inglesa! Exige muito mais que saber o idioma ou o conteúdo a ser apresentado. Exige a capacidade de regular as emoções, lidar com o medo, com as frustrações e até com as vitórias! Saber que somos seres sempre “em construção”. Aula após aula, refeição em família após refeição em família, dia a dia, cada instante em que caminhamos neste planeta. E é esse planeta mesmo que pede por pessoas capazes de se perceber, perceber o outro, entender o valor do coletivo e fazer acontecer. A aprendizagem socioemocional é uma responsabilidade pró-planetária.

Que tal fazer um exercício individual e na sua mente? Que tal divertir sua mente e refletir? Voltem ao início desse texto e releiam as frases citadas pelas personagens de Divertida Mente. Vocês já pensaram algo assim na vida de vocês? Mesmo que não tenham, o que sentiram ao lê-las e ver quem as disse? Pois é. Não tem quem não se identifique, pense que é interessante. Somos seres de emoções e “as emoções não desistem.” Elas habitam em nós.

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